Gonçalves Dias denunciou a escravatura, não só dos índios, como também dos negros, dizendo que a riqueza brasileira consiste nos escravos, pois nada se faz sem o seu sangue.
Em "Meditação" de 1845, G.D. fala da ideia da divisão do trabalho, da distribuição do poder e da instrução para denunciar a supremacia do branco, a escravidão do negro e a marginalidade de índios e mestiços. Misturam-se neste texto a dor trazida pela civilização / perda da liberdade e a afirmação da independência /nacionalidade brasileira. Ao contrário do índio, que costuma aparecer na sua obra como "a extinta raça“ ("Os Timbiras“) e raiz da nação brasileira, o negro fica à margem dessas considerações.
G.D. dedica apenas um poema ao negro, titulado "A Escrava“. Aí, o problema social divide o espaço com a temática da saudade e do exílio. Dá voz às lembranças de uma escrava das belezas do Congo e do amor lá deixado. Fala-se apenas do sofrimento do negro, sem considerá-lo entre as raízes nacionais, o que pode ser considerado uma atitude comum ao Romantismo brasileiro.
G.D. dedica apenas um poema ao negro, titulado "A Escrava“. Aí, o problema social divide o espaço com a temática da saudade e do exílio. Dá voz às lembranças de uma escrava das belezas do Congo e do amor lá deixado. Fala-se apenas do sofrimento do negro, sem considerá-lo entre as raízes nacionais, o que pode ser considerado uma atitude comum ao Romantismo brasileiro.
O bien qu'aucun bien ne peut rendre,
O Patrie, ó doux nom que l'exil fait comprendre!
Marino Faliero
O Patrie, ó doux nom que l'exil fait comprendre!
Marino Faliero
Oh! doce país de Congo,
Doces terras d'além-mar!
Oh! dias de sol formoso!
Oh! noites d'almo luar!
Desertos de branca areia
De vasta, imensa extensão,
Onde livre corre a mente,
Livre bate o coração!
Onde a leda caravana
Rasga o caminho passando,
Onde bem longe se escuta
As vozes que vão cantando!
Onde longe inda se avista
O turbante muçulmano,
O Iatagã recurvado,
Preso à cinta do Africano!
Onde o sol na areia ardente
Se espelha, como no mar;
Oh! doces terras de Congo,
Doces terras d'além-mar!
Quando a noite sobre a terra
Desenrolava o seu véu,
Quando sequer uma estrela
Não se pintava no céu;
Quando só se ouvia o sopro
De mansa brisa fagueira,
Eu o aguardava — sentada
Debaixo da bananeira.
Um rochedo ao pé se erguia,
Dele à base uma corrente
Despenhada sobre pedras,
Murmurava docemente.
E ele às vezes me dizia:
— "Minha Alsgá, não tenhas medo:
Vem comigo, vem sentar-te
Sobre o cimo do rochedo."
E eu respondia animosa:
— "Irei contigo, onde fores!"
E tremendo e palpitando
Me cingia aos meus amores.
Ele depois me tornava
Sobre o rochedo — sorrindo:
— "As águas desta corrente
Não vês como vão fugindo?
"Tão depressa corre a vida,
Minha Alsgá; depois morrer
Só nos resta!... — Pois a vida
Seja instantes de prazer.
"Os olhos em torno volves
Espantados — Ah! também
Arfa o teu peito ansiado!...
Acaso temes alguém?
"Não receies de ser vista,
Tudo agora jaz dormente;
Minha voz mesmo se perde
No fragor desta corrente.
"Minha Alsgá, por que estremeces?
Por que me foges assim?
Não te partas, não me fujas,
Que a vida me foge a mim!
"Outro beijo acaso temes,
Expressão de amor ardente?
Quem o ouviu? — o som perdeu-se
No fragor desta corrente."
Assim praticando amigos
A aurora nos vinha achar!
Oh! doces terras de Congo,
Doces terras d'além-mar!
———
Do ríspido Senhor a voz irada
Rábida soa,
Sem o pranto enxugar a triste escrava
Pávida voa.
Mas era em mora por cismar na terra,
Onde nascera,
Onde vivera tão ditosa, e onde
Morrer devera!
Sofreu tormentos, porque tinha um peito,
Qu'inda sentia;
Mísera escrava! no sofrer cruento,
"Congo!" dizia.
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