Lucía Fernández Palomanes
(Panorama de Literaturas e Culturas Lusófonas,
2015-2016)
A Serra do Larouco é uma serra localizada no norte de Portugal e no sul da Galiza, concretamente,
na província Trás-os-Montes (no concelho de Montalegre, distrito de Vila Real,
Portugal) e nas câmaras municipais de Cualedro e Baltar, pertencentes à
província de Ourense (Espanha).
Na
serra foram achadas duas aras dedicadas ao deus Larouco: Uma em Vilar de Perdizes, a qual foi encontrada em 1969 e foi levantada
em 2007- 2008, na que se pode ler LARAVC/O
D(...) MAX/VMO V(...)/ L(...) A(...) S(...) . Esta inscrição pode ler-se
como LARAVC/O D(eo). MAX/VMO V(otum)/ L(ibens) A(nimo)
S(olvit). (Cumpriu o seu voto com ânimo alegre a Larouco, Deus Supremo,
Padroeiro Supremo).
Atribui-se a Laravco Deo (Deus
Larouco) o epíteto Máximo, adjetivo
que normalmente se atribui a Júpiter. Junto com esta ara, estava outra, dedicada ao
deus Júpiter. A inscrição da ara de Júpiter tem a gravura Iovi/ O(ptimo)
Max(imo)/ Capito CARM(inus) (Capitão Carmínio
ofereceu este altar a Júpiter Óptimo Máximo, com ânimo alegre).
A outra ara dedicada a Larouco achou-se no outro
lado da serra, em Baltar (Espanha). A ara de Baltar tem a gravura "D(eo) REVE/LARAUCO/VALEN(us) APER EX/VOTO" (Para o Deus Reve dos Laroucos, de Valeno Aper, por
uma promessa).
Em São António de Monforte (Chaves,
Vila Real) foi achada uma outra ara ainda Neste caso, o que podemos ler na
inscrição é: LAROCVO/AMA PITIL/I FILIA LIBII(NS)/ANIMOV/ TUM RITVLI/
PRO MARITO SV(O). A Larouco, de Ama Pitili, em cumprimento de
um voto em favor do seu marido. Como se pode ver, neste caso não há
nenhuma palavra que faça alusão a uma divindade, como Reve ou Deo, mas o
caráter divino de Larouco é palpável ao haver uma mulher que dá uma ara como
agradecimento a um voto a favor do marido.
Embora muitos investigadores (como Bermejo Barrera 1986) achem que Larouco é um teónimo, isto parece não ser
assim. Outros investigadores defendem a ideia de que Larouco é simplesmente um
topónimo. Cabeza Quiles (2014) considera que Larouco, era um lugar sagrado ou de
comunicação com a divindade, de maneira que as fórmulas Deo/Reve Laravco ou Laravco
Deo Máximo devem ser entendidas como a/para
o Deus/Reve do Larouco. Esta afirmação sustenta-se em que laro- e lar- vêm da língua celta e significam “chão”, “plano” ou “campo”. Com esta
teoria concorda F.J González García. Para além
disso, González García estabelece uma relação do Deus Larouco com as divindades
do céu, o que também defende J.C Olivares Pedreño. Carlos Búa
reconhece igualmente Larouco como topónimo, concretamente, como orónimo,
rejeitando a teoria de Blanca María Prósper de Reve fazer referência a divindades aquáticas,
já que é impossível que um mesmo rio tenha vertente em dois lados distinto da
mesma serra.
O culto ao Deus do Larouco foi
substituído pelo culto cristão. Testemunho disto é que perto dos lugares onde se
encontraram as aras foram construídas capelas, em Vilar de Perdizes uma delas
foi consagrada à Nossa Senhora da Saúde e a outra, em Baltar, à Virgem da
Assunção. Aliás, na igreja de São Miguel, em Vilar de Perdizes apareceu uma
escultura que, em palavras do Padre Fontes, é uma
representação do Deus do Larouco, que foi escondida nos muros da igreja para
impedir misturar as duas religiões, o Cristianismo e o Paganismo.
Apesar da cristianização, a população da área continuou a relacionar a Serra do
Larouco com o trovão e a chuva, embora Reve Larouco provavelmente tenha sido um deus supremo (“A Serra do Larouco era a maior e mais temida por certopela sua influência na chuva, rios, água, trovão”, “Trovão no Larouco nunca é pouco”, Lourenço apud Pedreño 2002: 171).
Bibliografia
Quiles, Fernando Cabeza (2015). A
toponimia de Galicia. Noia: Toxosoutos.
Bermejo Barrera, José Carlos (1986). Mitología y mitos de la Hispania prerromana
II. Vol. 85. Madrid: Ediciones Akal.
Búa, Carlos (2009). “Hidronímia e teonímia” em Onomástica
galega II: onimia e onomástica romana e a situación lingüística do noroeste
peninsular. Santiago de Compostela:
Universidade de Santiago de Compostela.
Gago, Manuel (2012). “Mirarlle a
cara a un antigo deus”, dispoñíbel en
http://www.manuelgago.org/blog/index.php/2012/01/25/mirarlle-a-cara-a-un-antigo-deus/.
García, Francisco Javier González (2007). Los pueblos de la Galicia céltica. Madrid: Ediciones Akal.
Pedreño, Juan Carlos Olivares (2002). Los dioses de la Hispania céltica. Vol.
7. Madrid: Real Academia de la Historia,.
Prósper, Blanca María (2002). Lenguas y religiones prerromanas del occidente
de la Península Ibérica. Vol. 295. Salamanca: Universidad de Salamanca.
________
(2009). "Reve Anabaraeco, divinidad acuática de las Burgas
(Orense)." em Acta Palaeohispanica X Palaeohispanica 9, 203-214.
Outras fontes
Último
acesso a todas as fontes: 18/10/2015.
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