Vencedora em
quatro categorias da primeira edição dos Prémios Áquila - melhor ator principal
(João Paulo Rodrigues), melhor filme, melhor atriz principal (Melânia Gomes) e
melhor realizador (Nicolau Breyner)-; 7 Pecados Rurais foi o principal
protagonista da edição de 2014 destes galardões que premiam a televisão e
cinema portugueses.
Este filme de
2013 da companhia Cine Cool / Cinemate é uma versão cinematográfica do programa
da RTP1 Telerural que exemplifica,
de jeito hiperbólico, alguns
preconceitos (infelizmente) evidentes na nossa sociedade, ainda que esta
situação vai mudando pouco a pouco.
O filme começa
com os protagonistas a caminho da central de camionagem para recolher as primas
que chegam à aldeia de Curral de Moinas desde Lisboa e com as quais costumavam
manter relações sexuais cada vez que elas visitavam a aldeia.
No caminho têm
um acidente e morrem. Chegam ao céu e Deus diz-lhes que para voltarem à terra
não podem cometer nenhum dos sete pecados capitais. Eles aceitam mas não sabem
quais são os sete pecados dos que fala Deus e pecam constantemente.
São dois os
pontos que gostava de analisar: a visão que os habitantes da aldeia têm dos
habitantes da cidade e vice-versa; e a visão que os cidadãos têm da Igreja e da
religião cristã.
Quanto ao
primeiro ponto, observamos neste filme preconceitos como os seguintes: nas
aldeias a gente não se lava, são brutos, violentos, mais feios, tolos e
bêbedos. Não andam depilados como os da cidade (sentem nojo dos cidadãos da
cidade porque se depilam) e andam desesperados à procura de sexo. Em geral são
mais selvagens que os da cidade, mas é curioso ver como alguns habitantes da
cidade (as primas) preferem a vida na aldeia; estão ``fartas´´ da cidade.
Quanto ao segundo
ponto, penso que qualquer pessoa (até os mais crentes), no fundo, estariam de acordo com as críticas dos
protagonistas, Quim e Zé. Reconheceriam que, em geral o desconhecimento da doutrina cristã é
grande, principalmente entre os mais jovens. Também é interessante a imagem que
os protagonistas têm do céu e que tão bem representada está no filme; e de
Deus, representado pelo ator e realizador Nicolau Breyner.
Este ``luxo´´
do céu leva os protagonistas a duvidarem e a não saberem se é melhor morrer e ir
para esse paraíso ou viverem atormentados na Terra. Porque viver sem pecar
nunca pode chegar a ser um tormento.
Está claro que
nestes momentos de crise, os portugueses, espanhóis e todo o mundo em geral
necessitam divertir-se um pouco e 7 Pecados Rurais pode ser uma boa
ajuda. Mas também pode ser perigoso que se use estes preconceitos como
instrumento. Devemos ver este filme como uma caricatura hiperbólica da
sociedade, não como um meio de propagação de preconceitos. É um filme com o que
nos devemos rir desses preconceitos,
não com os preconceitos.
(David Gonçalves da Cruz)