25/02/11

Cesário Verde faz 156 anos


No dia 25 de Fevereiro, há 156 anos, nasceu Cesário Verde, talvez o poeta mais importante do século XIX em Portugal. Neste blogue oferecemos uma série de materiais em relação à sua vida e obra: uma breve biobibliografia, uma edição online do poema "Contrariedades" e de O Livro de Cesário Verde, junto com um extenso powerpoint que ilustra "O Sentimento dum Ocidental" com imagens do século XIX:
Completamos a homenagem com a adaptação do poema "Contrariedades" por Noé Touraldo, com música de Amontron e interpretado por Pedro Ribeiro e Ana Machado. O filme recebeu a menção honrosa no Festival Bibliofilmes em 2009:

24/02/11

Hino do Precariado dos Deolinda chegou ao Parlamento


Foi na Audição de Políticas de Juventude da Comissão de Educação e Ciência, onde representantes de organizações de juventude e de autarquias locais debateram com deputadas/os as dificuldades que enfrentam as novas gerações no mercado de trabalho. José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda,indicou que “O problema não é o estudar, é o ser escravo”. Esta foi uma das reacções às afirmações da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que se tinha mostrado preocupada com a possibilidade de o verso “que para ser escravo é preciso estudar” se tornar num desincentivo para as/os jovens.Também o PSD, através do seu deputado Pedro Rodrigues, admitiu que “A canção dos Deolinda veio dar voz a esta sensação de impotência e desânimo dos jovens portugueses”. Vejam a notícia completa no Público e as reacções em alguns blogues

Como indica o Diário de Notícias, os Deolinda vão disponibilizar na próxima semana o tema inédito "Parva que sou" em vídeo. Face à recepção entusiasta de "Parva que sou", já tinham publicado um comunicado no facebook que se espalhou, rapidamente, por outros sites:

"No passado mês de Janeiro, durante os quatro concertos que realizámos nos Coliseus do Porto e de Lisboa, apresentámos uma canção nova intitulada “Parva que sou”. Esta música fazia parte de um conjunto de quatro novas canções que trabalhámos e ensaiámos com o intuito de apresentar uma delas num alinhamento especialmente feito para os Coliseus. Escolhemos “Parva que sou”, porque era ,aquela que tinha o arranjo terminado e porque o tema que abordava nos pareceu actual. Durante os ensaios e até em apresentações feitas a amigos nunca imaginámos a dimensão que a sua letra poderia tomar. Foi com grande surpresa e emoção que assistimos a uma reacção tão intensa e espontânea por parte das pessoas que estavam a ouvir uma música inédita. Verso a verso, fomos sentindo o público a apropriar-se da canção e a tomá-la como sua. Foram 4 momentos especiais e porventura únicos de comunhão entre nós e o público. Após os concertos, ao ver que o tema “Parva que sou” continua a ganhar vida através das redes sociais e dos meios de comunicação, não podemos deixar de demonstrar o nosso agrado em perceber que uma canção está a suscitar debate e diálogo em volta de um assunto actual e que julgamos da maior pertinência. Mais felizes ainda ficamos, enquanto músicos, ao constatar que a Música continua a ter este papel na nossa Sociedade. Iremos em breve disponibilizar uma versão da música, gravada num dos concertos nos Coliseus, para que quem a queira ouvir o possa fazer com maior qualidade sonora. Agradecemos todo o carinho que as pessoas têm demonstrado e o genuíno interesse da imprensa relativamente ao “Parva que sou”. Mais não precisamos de dizer. A canção fala por si." Ana Bacalhau, Pedro da Silva Martins, Luís José Martins, Zé Pedro Leitão (Deolinda)

Também o Telejornal já se tem feito eco do fenómeno:



No entanto, também já se fizeram ouvir algumas (poucas) vozes cépticas, embora cheguem sobretudo do lado ultraliberal. O novo hino social continua a levantar ondas.

16/02/11

Os Novos Hinos do Precariado e da Corrupção

Os Deolinda, grupo de revelação dos últimos anos em Portugal, deram no dia 23 de Janeiro um concerto no Coliseu do Porto, onde apresentaram novas canções. Uma delas converteu-se, espontaneamente, numa espécie de hino do precariado jovem em Portugal. Vejam, por exemplo, as reacções no Blitz ou, também, no Jornal de Letras que caracteriza a letra como uma "descrição da primeira geração que vive e viverá pior que os pais". Supreendidos com a recepção efusiva do público, os Deolinda já prometeram oferecer em breve um vídeo de boa qualidade. Por enquanto só pulam pela net gravações de espectadoras/es como esta:



A letra é, de facto, corrosiva:

Sou da geração sem remuneração
E não me incomoda esta condição
Que parva que eu sou
Porque isto está mal e vai continuar
Já é uma sorte eu poder estagiar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar


Sou da geração "casinha dos pais"
Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
E ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou
E fico a pensar
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Sou da geração "vou queixar-me pra quê?"
Há alguém bem pior do que eu na TV
Que parva que eu sou
Sou da geração "eu já não posso mais!"
Que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou
E fico a pensar,
Que mundo tão parvo
Onde para ser escravo é preciso estudar

Entretanto, os Homens da Luta, conhecidos pelo seu estilo que combina a música com o sketch satírico, já responderam à canção dos Deolinda com uma versão ainda mais sarcástica. A sua adaptação alude aos acontecimentos políticos dos últimos anos em Portugal, relacionados com a corrupção:



A letra é esta:

Que Esperto Que Eu Sou

Sou da geração da corrupção
Violo a lei e a Constituição
Que esperto que eu sou

Sou da geração da intimidação
Eu calo jornais e a televisão
Que esperto que eu sou

Sou da geração não-me-canso-de-mais
Estou um piso acima dos comuns mortais
Que esperto que eu sou

Estes são só dois exemplos, estilisticamente bem diferentes, da actual vigência da canção protesta em Portugal com apoio na música popular. Porém, os Deolinda, também são um acontecimento musical de grande interesse e de projecção internacional neste momento. Vejam e oiçam só este excerto dum concerto que deram, em Outubro do 2010, no Joe's Pub em Nova York:


Fun with Fado? Deolinda Plays Joe's Pub from Michal Shapiro on Vimeo.