26/10/10

Colonialismo e tabagismo à portuguesa

No sábado passado, a escritora Isabela Figueiredo publicou no seu blogue um excelente post sobre a "Colonização à portuguesa", cuja leitura recomendo vivamente. Não conheço melhor explicação em tão poucas palavras - e acompanhada de um acertado excerto de Mia Couto como exemplificação literária - daquilo que, dentro e fora de Portugal, ainda se continua a vender como um colonialismo mais brando e suave, em comparação com os outros. Enfim, como se Portugal tivesse inventado a mestiçagem de raças e a transferência intercultural. O post da Isabela fez-me lembrar, entre muitas outras coisas, uma marca de cigarros sem filtro que os mais atrevidos fumávamos na adolescência, apesar de ter sido um tabaco realmente ruim. A nossa iniciação no tabagismo à portuguesa guardava involuntárias semelhanças tanto com o colonialismo, como também com a saudade que uma parte da sociedade portuguesa ainda cultiva em relação a este. Sem conhecer ainda a célebre definição da saudade, já postulada por D. Duarte, sentíamos, simultaneamente, "nojo, tristeza e prazer" ao fumar aquilo. Era preciso ter uma grande capacidade de dissimulação e de desenrascanço para fazer crer ao resto da malta que se aguentava e, até, que se gramava o "Português suave"!  Suave na etiqueta, mas afinal sem filtro, essa talvez seria outra micro-definição do 'colonialismo à portuguesa'.

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